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Primeiros caminhos: resenha das duas fontes iniciadoras das nossas pesquisas por Caroline Feitosa

  • Foto do escritor: CAROLINE FEITOSA DE SOUSA
    CAROLINE FEITOSA DE SOUSA
  • 15 de dez. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 20 de dez. de 2020

No início das nossas pesquisas sobre as mulheres escritoras do século XIX, encontramos dois documentos importantes, que nos nortearam, visto que nessas épocas de pandemia, só tivemos a internet e os sites especializados (ou não) para pesquisa. Um deles, Vozes Insurgentes de Mulheres Negras https://rosalux.org.br/vozes-insurgentes/, foi apresentado pela Katarine Flor, jornalista, futura professora de Língua Portuguesa e colaboradora deste projeto, a outra foi um achado. Quem iria imaginar que a câmara dos deputados, às vezes muito criticada por nós, nos daria uma linda exposição sobre essas mulheres que foram apagadas da história As mensageiras: escritoras do Brasil?


Se as mulheres que escreviam e pensavam foram praticamente apagadas da história do século XIX, imaginem as mulheres negras brasileiras? Esse livro, Vozes Insurgentes, foi uma iniciativa da Ong Rosa de Luxemburgo https://rosalux.org.br/, para amenizar o enorme vácuo histórico “imposto primeiro pela escravidão, e posteriormente pelo racismo, o sexismo e a desigualdade de classe”, como eles disseram. Esse livro consagra a ideia de que mulheres pensam e muito...e algumas mulheres negras, mesmo com todas as adversidades, extraíram de si e do seu tempo o melhor que puderam.


Nesse livro, vocês vão encontrar diversas vozes femininas e suas biografias, lutas e histórias de enfrentamento, além das conhecidas Carolina Maria de Jesus e Maria Firmina dos Reis, lemos sobre Esperança Garcia, Antonieta de Barros, Eunice Cunha, Maria de Lurdes Valle Nascimento, Laudelina de Campos Mello e outras.


“Ler estas mulheres é uma oportunidade de adensar raízes para que a luta das mulheres e o atual feminismo negro brasileiro se expandam com consistência e permanência”, complementa a organizadora da publicação.


O texto de abertura do livro, além dos textos de contracapa, não foi qualquer um, deparamos com uma voz feminina, negra, cansada, humilhada e insurgente. A ousada Esperança Garcia escreveu ao governador do Piauí na época:


Carta de 1770, endereçada ao então governador do Piauí


Eu sou uma escrava de V.Sa. administração de Capitão Antonio Vieira de Couto, casada. Desde que o Capitão lá foi administrar, que me tirou da Fazenda dos Algodões, onde vivia com meu marido, para ser cozinheira de sua casa, onde nela passo tão mal. A primeira é que há grandes trovoadas de pancadas em um filho nem, sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca; em mim não posso explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo, peada, por misericórdia de Deus escapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confessar há três anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Pelo que peço a V.Sa. pelo amor de Deus e do seu valimento, ponha os olhos em mim, ordenando ao Procurador que mande para a fazenda onde ele me tirou para eu viver com meu marido e batizar minha filha. De V.Sa. sua escrava,


Esperança Garcia.


As e os estudantes também ficaram impressionados com alguns discursos, narrativas e poemas e principalmente com o tema do Racismo e do feminismo. Produziram críticas abertas e faladas e também um lindo bioconto (assim batizamos), que está neste mesmo blog.


Para nossa surpresa, achamos a exposição e de grande importância para as mulheres intelectuais: As mensageiras, primeiras escritoras do Brasil. Até há bem pouco tempo, quase não se conhecia a literatura feita por mulheres no Brasil antes do século XX. O universo escolar se detém em apresentar a literatura e o cânone masculino do século XIX. Veneramos Machado de Assis, como toda razão, mas nos esquecemos de Narcisa Amália, Nísia floresta, Júlia Almeida e tantas outras.


“Isso porque, calcadas numa sociedade patriarcal, que oprimia e menosprezava a expressão feminina, nossa historiografia e nossa crítica literária também se constituíram de forma desigual e machista, tendo ignorado e apagado muitas de nossas escritoras e suas obras.


As pesquisas em torno do assunto só ganharam força nas universidades brasileiras com a formação, em 1984, do Grupo de Trabalho Mulher e Literatura, no âmbito da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll). Desde então, a academia passou a se dedicar mais ao resgate da memória de pioneiras como a maranhense Maria Firmina dos Reis (1822—1917), considerada a primeira romancista brasileira, e a norterio-grandense Nísia Floresta (1810—1885), precursora em questões feministas, abolicionistas, indianistas e republicanas.” (trecho da fala da curadora Maria Amélia Elói -https://www2.camara.leg.br/a-camara/visiteacamara/cultura-na-camara/arquivos/.lixeira/as-mensageiras-primeiras-escritoras-do-brasil)


A exposição As Mensageiras nos surpreendeu enquanto estudantes, mesmo a professora (rs), com a quantidade e qualidade das nossas escritoras do Brasil, que fizeram e fazem parte da história da literatura, mas não merecem o cânone nem em livros didáticos (sempre repetitivos), por motivos que a curadora Amélia Elói já expôs no texto da abertura da exposição.


Pudemos adentrar no mundo da escrita feminina do século XIX, mas nesse primeiro momento, em suas biografias e histórias de luta, a partir do portfólio da exposição, e nortear nossas pesquisas em dados mais verídicos. Porque como vocês sabem, o universo internético pode nos confundir de vez em quando...


Ficamos impressionados com a quantidade de produção acadêmica, nossa outra fonte de pesquisa, relacionada às mulheres dessa época (e antes até) e também lamentamos não haver uma divulgação maior dessa obra, ainda pertencente aos grupos de pesquisas quase exclusivamente acadêmicas.


Descobrimos que havia revistas produzidas nessa época por mulheres https://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2015/08/Revistas-femininas-do-s%C3%A9culo-XIX.pdf,para mulheres e para todos no esforço de manter a memória da produção feminina. Uma delas “A mensageira”, cujo acervo encontramos no site da BN. Todo tipo de gênero e...apagado da história foi produzido por essas mulheres: crônica jornalística, poesia, artigo, texto para teatro, folhetim, conto para crianças e material didático.


Resgatamos a cronologia da luta feminista https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142003000300010 que ainda resiste e persiste, inevitável tema nas nossas aulas e encontros coletivos e individuais com os estudantes. Deparamos com falas deste tipo (de um escritor famoso da época):


“Minha Amélia (...) Não me agradou ver um soneto teu (...) desagradou-me a sua publicação. Previ logo que andava naquilo o dedo do Bernardo ou do Alberto. Tu, criteriosa como és, não o farias por tua própria vontade (...) Há uma frase de Ramalho Ortigão, que é uma das maiores verdades que tenho lido: — O primeiro dever de uma mulher honesta é não ser conhecida. — Não é uma grande verdade? (...) há em Portugal e Brasil cem ou mais mulheres que escrevem. Não há nenhuma delas de quem não se fale mal, com ou sem razão. (...) Não quer isto dizer que não faças versos, pelo contrário. Quero que os faças, muitos, para os teus irmãos, para as tuas amigas, e principalmente para mim, — mas nunca para o público. (...)

Teu noivo Olavo Bilac.

São Paulo, 7 de fevereiro de 1888


“Essas mulheres muito lutaram pelo direito de manifestarem suas ideias e de verem seu trabalho reconhecido pela própria família, pelos escritores contemporâneos, pelo público e pela crítica.”

É triste que em pleno século XXI e com pesquisas acadêmicas renomadas e consolidadas desde a década de 1980 ainda não vimos a repercussão da escrita feminina como deveríamos.









A



 
 
 

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