Vozes que ecooam
- Katarine Flor
- 8 de dez. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de dez. de 2020

Foi com grande alegria que recebi o convite de Caroline Feitosa para participar de suas aulas. Professora esta que guardo grande estima e admiração por seu empenho e vasto conhecimento em sua área de atuação, língua portuguesa. Portanto, não foi de se admirar a organização e o preparo de seus alunos durante a primeira conversa que participei.
Pude notar a astúcia e a curiosidade nas perguntas preparadas pelos jovens. Havia ali pesquisa e conexão com a realidade que os cerca. Notei uma postura ativa e questionadora dos estudantes.
Aquele foi um momento rico de aprendizagem não só para os alunos, mas também para mim, que tive a oportunidade de me reconectar com a curiosidade e as reflexões trazidas pelas novas gerações.
Após este primeiro encontro, voltei às aulas da prof. Caroline outras vezes. Agora, para contribuir com o potente projeto de um revista online sobre escritoras mulheres, que ao longo da história foram invisibilizadas, ridicularizadas e apagadas, como nos conta Maria Firmina no prólogo de seu romance Úrsula, de 1859:
“Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou lume (...). Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima”.
Consciente das dificuldades que enfrentava por ser mulher, a autora maranhense seguiu em frente e, apesar dos escárnios machista que, conscientemente, enfrentava no período, publicou seu livro, considerado hoje o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil.
Pesava, também, sobre ela o fardo do racismo. Maria Firmina deu “lume” para a questão da abolição sob uma perspectiva até então inédita na literatura do país que ainda tratava o assunto do ponto de vista europeu. Em seus escritos “ouve-se” a voz dos oprimidos, das mulheres, dos negros e escravizados.
O projeto da revista online Apagadas da História, certamente, deixará marcas nos corações desses estudantes, que seguirão suas vidas escolares um pouco mais questionadores e abertos para refletir sobre o papel e lugar das mulheres na sociedade.
Katarine Flor é jornalista e aspirante à professora de letras.
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